domingo, 28 de fevereiro de 2010

[Ainda] A tragédia da Madeira

Acho muito curiosa a ideia 'vendida' aos meios de comunicação social pelas entidades governamentais da Madeira de que este foi "o maior desastre natural ocorrido no último século...".
Há duas coisas que me parecem incoerentes nesta afirmação: primeiro, se se considera o maior desastre natural neste século, pode perguntar-se "houve antes disso um desastre natural com esta origem ainda maior"? Segundo, qual é o critério para classificar este como " o maior desastre natural"? - o número de mortos e o valor dos prejuízos materiais? Ou os valores de precipitação aferidos por unidade de tempo e espaço (de forma a que possamos comparar o grau de concentração espacial e temporal da precipitação)? Se o critério considerado for o primeiro, como parece ser o caso e é normal acontecer nestas situações, estamos e incorrer numa imprecisão grave, pois as consequências humanas foram, agora, mais elevadas porque o grau de vulnerabilidade do território conheceu um agravamento exponencial nas últimas 2 ou 3 décadas que não tem paralelo com aquilo que acontecia no passado mais longínquo.
Considerar que este foi "o maior desastre natural ocorrido no último século" é uma afirmação que tem intrinseca a ideia de que a causa do fenómeno se ficou a dever a um paroxismo climático anormal(alguns diriam mesmo, consequência do 'aquecimento global'). Mas pensar isso é ignorar aquilo que é a marca característica do clima madeirense, onde estes eventos extraordinários não são propriamente uma novidade e encontram-se bem explicados em termos científicos (ver posts anteriores).
Sem ter presente um historial do valores de precipitação ocorridos na Madeira desde que há registos, parece-me mais do que evidente se o paroxismo foi o detonador, mas o material verdadeiramente explosivo estava espalhado pelas vertentes e ao longo dos vales das ribeiras da ilha (especialmente na área do Funchal). Ignorar este facto é inveredar por uma estratégia de avestruz, com consequências que só tenderão a agravar-se no futuro.
Tendo em conta que o nível de riqueza da região é já superior à média nacional, este dramático acontecimento constitui um caso paradigmático para ilustrar as consequências perversas do crescimento económico face àquilo que deveria ser um desenvolvimento social sustentável.

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